sábado, julho 25, 2020

"A boa madeira não cresce com sossego; quanto mais forte o vento, mais fortes as árvores." - J. Willard Marriott


Sempre gostei de passear no silêncio perdido dos bosques, das matas e das florestas, ou simplesmente, calcorrear os caminhos de terra escura, fria e húmida que esperaram séculos para serem descobertos e nos contarem as suas histórias com sinais que temos que descobrir a cada passada.
O ar que se respira nestes espaços pincelados pela verdura da natureza exalam uma frescura que nos entra na alma e purifica o ar rarefeito que vivemos no dia a dia. Gosto particularmente de me deitar no meio das árvores e olhar para cima, ver aqueles troncos enormes e grossos a afunilarem-se até ao infinito, deixando uma aureola na ponta, apenas para que a claridade entre e alumie com a cor da vida a própria vida.
Quando passeamos por estes caminhos sinuosos e sem norte, percebemos que as árvores seculares que ornamentam este paraíso resistiram a várias intempéries, eventualmente de todos os tipos dos elementos da natureza – ar,  fogo, água e terra – e só as mais fortes, aquelas que que procuram nas adversidades uma oportunidade para serem mais fortes, é que conseguiram prevalecer e privilegiar os seus convidados com o que de melhor têm para oferecer, a sua natureza no seu estado mais puro.
Continuo a percorrer este bosque com caminhos de musgo verde-escuro, com a frescura a acariciar-me a cara, primeiro como uma tentativa de me ler a cara, o corpo, a minha presença, depois o ar intensifica-se, as folhas começam a movimentar-se e o que antes era um silêncio perdido, agora é uma sinfonia de sons que se ligam entre si, como se cada elemento daquele lugar tocasse um instrumento diferente. As rajadas de vento começam a intensificar-se e começam percorrer desordenadas as aberturas dos troncos fortes e grossos das árvores, assobiando, num tom que não identifico, mas que mostra intensidade e força. Os meus pés começam a sentir a terra a mover-se, as árvores firmam as raízes nas profundezas daquela terra castanho-escuro, permanecendo imóveis e firmes nos seus postos. O meu corpo balança ao sabor daquele desassossego, tento ver uma saída, mas tudo o que consigo é segurar-me a uma árvore, e como ela deixo que as minhas raízes cresçam para o interior do chão, deixando-me frondescer naquele espaço mágico. As minhas pernas tornam-se um belo tronco de árvore, que juntas se seguram daquela ventania, os meus braços crescem e multiplicam-se cobertos de pequenas ramificações que se enchem de folhas verdes com cheiro fresco.
Quando tudo passou, já não sei se sou árvore ou se sou pessoa, talvez seja um pouco das duas, e assim, procurarei em cada uma delas ser mais forte, mais puro e mais feliz, como aquele corpo que entrou aqui e que o vejo sair do bosque hirto e com um olhar firme no futuro.

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